quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Parafuso

Deixa a chuva cair. Uma gota, outra gota e mais outra. Pensa mais um pouco. Pequena pessoa, pequenos problemas, coração inquieto. A vida que se leva é o que te leva. Girando, girando e voltando ao mesmo lugar. Segunda, terça, quarta, quinta e sexta de novo. Semana que vem eu faço. Semana que vem eu começo. Semana que vem nunca chega, mas a esperança permanece intacta. Logo mais vem um arco-íris. Amanhã vai fazer sol. 

domingo, 21 de dezembro de 2014

Resoluções para 2015

      Que 2015 seja melhor que 2014. Como sempre, nos finais de ano eu fico avaliando uma série de coisas, os meus sucessos e insucessos, as coisas boas e as ruins. Eu também faço planos e geralmente gosto de fazer alguma coisa bacana na virada do ano para que tudo comece bem, e nessas horas é muito bom poder estar ao lado de quem faça essas mesmas coisas. Isso na virada do ano e ao longo do ano também gosto de compartilhar coisas que não compartilho com um clique. Gosto de estar ao lado de quem me oferece a verdadeira companhia. Se é para fazer promessas de ano novo, então no próximo ano eu prometo viver, prometo me livrar de tudo aquilo que não faz mais sentido, prometo me afastar de quem simplesmente não se importa por mais que você tente fazer tudo melhorar.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Eu, você e o filho que a gente não teve



Fotografias velhas e desorganizadas no meu notebook
Velhos casos de amor convivendo com os novos
Pelo menos aqui, na tela,
Na memória também
Mas lá, na casca dura e inacessível
Ali estamos nós
Eu você e o filho que a gente não teve

Louças empilhadas na pia
Roupas espalhadas pelo chão
Aquele velho moletom que nunca vai pra caridade
A caneca de estimação
A minha sede de vingança já passou
Ficou a saudade e a solidão,
Ficamos aqui,
Eu, você e o filho que a gente não teve
E a casa que a gente não teve
E aquela viagem que a gente não fez
E aquele presente que eu não te entreguei
E o amor que sobrou em mim

terça-feira, 23 de setembro de 2014

O problema é a memória

               
          
              O problema é a memória, sempre a memória, que desperta sem convite, enquanto escovo os dentes, penteio os cabelos ou qualquer outra coisa. Não é só porque houve, um dia, algo fora do lugar, é porque ainda há. Derrubamos a casa ou sequer chegamos a construí-la? Eu, sem saber a resposta e com essa velha mania de consertar coisas, tento juntar os tijolinhos e por as paredes no lugar, mas qual parede? Eu me lembro apenas dos tijolos, muitos tijolos espalhados, do resto conheço apenas a ausência. Não dá pra fazer bolo de chocolate sem chocolate, você disse. É... tem razão, não existe chocolate, nem tijolos, eu acho. Talvez não exista nada de nada em lugar algum, mas o problema é a memória, sempre a memória, que teima em beber a água salgada e aumenta sua sede de foda-se sei lá mais o que! Não, não! Cansei de vê-la jogar seus desejos no meu colo, de ouvir o seu sussurro, de permitir que as suas frustrações venham me acariciar os cabelos ou que transforme a sua acidez em meus enjoos matinais, mas ela volta, sempre volta e traz você e todas as obviedades para as quais eu gostaria de fechar os olhos. Excluindo essas ocasiões eu geralmente fecho os olhos, viro o rosto ou digo: “Deixe quieto”... até chegar a hora da memória, então sinto nojo de você. Sinto culpa, muita culpa de quem pede o perdão antes de errar, pois sabe da inevitabilidade do erro. Perdão, Senhor, eu sei o que faço. Sei e faço como se ouvisse um suave “eu avisei”.
    Sinto a acidez do estômago constantemente e não apenas pela manhã, ao despertar do sono. Há alguns dias tomei um porre, vomitei até as tripas, eu acho, mas você não saiu de dentro de mim. Tomei um banho bem demorado e esfreguei o corpo todo com uma esponja, mas a sua marca ainda estava lá.                
   A autopiedade não me conforta. Você também não me conforta. Aprendi a amar o frio na barriga que sinto ao descer a montanha russa. Habituei-me à imprevisibilidade e à distância.  O seu silêncio guarda um mundo inteiro, um mundo que eu gostaria que estivesse em outro universo, não no nosso. Os olhos, contudo, transbordam o que a boca teima em esconder. Acho que não consigo mais varrer a sujeira para baixo do tapete. A solução, porém, é a memória, sempre a memória que insiste em lembrar de outras casas e outros tijolos e de casas que nem são feitas de tijolos e do sabor do chocolate, de outros chocolates, doces, amargos, brancos, recheados... Já fiz muito bolo de chocolate, alguns mofaram, outros eu comi até os farelos. O que eu posso garantir é que essas receitas uma hora acabam ou enjoam, pois esse tipo de desejo é fome e uma vez saciado ele deixa de existir. Não é a mentira, como dizem, mas sim o desejo que tem pernas curtas, é inescrupuloso e uma hora vai te derrubar. É preciso transcender, algo para o qual eu nem sei ainda dar o nome, mas existe, ou pelo menos já existiu se não me falha a memória. Tudo que posso dizer agora é que não sei mais se gosto de chocolates e que cansei de carregar tijolos.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Não tenho tempo para ser inteligente


Desculpe, não tenho tempo para ser inteligente. Agenda cheia, casa vazia. Minha melhor amiga agora é mãe, não fui visitá-la, passaram-se semanas e, então, o mês. Não fui visitá-la. Há algum tempo também não recebo amigos em casa. Alguns filmes estão aguardando há mais de um ano para serem vistos e os livros na estante para serem lidos, o parque aguarda a minha caminhada e a agenda do médico o horário da minha consulta. Nada a contento, nada a seu tempo, eu, eternamente atrasada, já estou habituada. O que dói mesmo é o fato de que a vida vai fugindo. Não tenho tempo para ser uma pessoa legal. O cotidiano não é nem elétrico e nem magnético. Não leio Clarice Lispector, não comento a obra de Frida Kahlo, não estou antenada com o assunto top do momento. Tem dias que nem leio o jornal. Comprei o bilhete da loteria e não conferi os números para saber se ganhei. Postei uma foto divertida no facebook, duas pessoas curtiram, essa piada é velha, eu acho, mas ainda não tinha visto.   
Enterrei a vaidade em algum lugar, não comprei roupas descoladas, não vou à manicure faz tempo, meu cabelo cresceu, me esqueci de cortar, está cheio de pontas duplas e ressecadas. As bijuterias estão escurecendo na gaveta. Uma pitada de sono e outra de gordura para chegar à seguinte conclusão: também não tenho tempo para ser bonita. Tenho fugido de fotografias. Como chocolate, pizza, pastel e não é porque não tenho tempo, é porque são coisas gostosas, feitas, talvez, pra suprir momentaneamente a falta de diversão. Tenho gastrite. Dói. Não faço dieta. Fui ao bar outro dia, não tomei cerveja, passou meia hora, voltei pra casa e dormi.  Hojeacordeitomeibanhosaícorrendoeoportãoeletrônicotravouacheiqueiriaatrasarteveuminfeliznaminhafrentedirigindoa20kmporhoraosinalestavaamareloeentãofechouacabeipassandonosinalvermelhoeoguardaestavapertocoloqueiocintodesegurançaqueeutinhaesquecidochegueiatempoufanahoradoalmoçofuiatéapadariatomeiumpingadoecomiumpãonachapaorestododiapassourápidoànoiteeuvolteiaestudareentãochegueiemcasaeodiaacabou.
      Amanhãcomeçatudodenovo. Mas, quem afinal de contas quer saber disso? Quem pensa que a vida anda escassa? Nem eu mesma e nem tantas outras pessoas que vivem o texto sem espaço e que não tem tempo para serem bonitas, interessantes e muito menos inteligentes. Não, nós não pensamos, apenas sufocamos. 

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Limonada

Eu sou vermelho
Você é verde
Eu sou Saturno
Você é Urano
Eu sou raiz
Você é nuvem
Eu sou linha
Você é espiral
Eu sou relógio
Você é eternidade
Eu sou enciclopédia
Você é mitologia
Eu sou Norte
Você é oceano
Eu sou lembrança
Você é sonho
Eu sou casa
Você é janela
Eu sou geladeira
Você é liquidificador
Eu sou método
Você é invenção
Eu sou gramática
Você é literatura
Eu sou estrada
Você é viagem
Eu sou eletricidade
Você é magnetismo
Eu sou acorde
Você é silêncio
E nós dois: música!


quinta-feira, 3 de julho de 2014

Eu, você e o labirinto



Eu entrei no labirinto.
Não queria, mas eu entrei no labirinto.
Cega, eu entrei no labirinto,
Sem o novelo de Ariadne,
A sós com o Minotauro
E uma coleção de demônios,
Eu entrei no labirinto.
Há uma vaga lembrança
Que aos poucos se evanesce
Sobre como era a vida
Antes do labirinto.
Quiçá, lá fora encontremos, ambos, a paz.
Como o criador que não pode viver longe da criatura
Você não pode viver longe do labirinto que forjou.
Perdi a conta dos dias e das voltas.
Com um pedaço de giz,
Marquei os caminhos por onde passamos,
Mas você apagou todas as marcas.
Não há conforto algum em ficar,
Lá fora, porém, quem sabe o que haverá?
Eu ainda fujo do Minotauro,
Você o domesticou,
Prefere a companhia dos velhos demônios ao desconhecido.
Com a voz trêmula, então você falou:
- Eu amo você!
Com a voz trêmula de quem duvida,
Você se perdeu,
Nós nos perdemos.
Eu, cansada dessas nossas voltas,
Do mesmo e velho caminho,
Distante da ira e do carinho,
Parei e me deitei no chão,
O sono sucede à adrenalina.
Perguntas? Respostas? Reflexões?
Oxigênio, apenas isso, oxigênio!
Uma bela inalação de ar fresco.
Saia, dê mais uma volta,
Converse com os demônios não domesticados
Esses me conhecem muito bem,
Ainda que os veja como estranhos.
Admire toda a extensão do labirinto
Enquanto eu aprecio os espelhos,
Deixe-me só,
Só me deixe,
Só isso.