Deixa a chuva cair. Uma gota,
outra gota e mais outra. Pensa mais um pouco. Pequena pessoa, pequenos
problemas, coração inquieto. A vida que se leva é o que te leva. Girando,
girando e voltando ao mesmo lugar. Segunda, terça, quarta, quinta e sexta de
novo. Semana que vem eu faço. Semana que vem eu começo. Semana que vem nunca
chega, mas a esperança permanece intacta. Logo mais vem um arco-íris. Amanhã
vai fazer sol.
As Crônicas de Flavia
Só não vá se perder por aí...
quarta-feira, 12 de outubro de 2016
domingo, 21 de dezembro de 2014
Resoluções para 2015
Que 2015 seja melhor que 2014. Como sempre, nos finais de ano eu fico avaliando uma série de coisas, os meus sucessos e insucessos, as coisas boas e as ruins. Eu também faço planos e geralmente gosto de fazer alguma coisa bacana na virada do ano para que tudo comece bem, e nessas horas é muito bom poder estar ao lado de quem faça essas mesmas coisas. Isso na virada do ano e ao longo do ano também gosto de compartilhar coisas que não compartilho com um clique. Gosto de estar ao lado de quem me oferece a verdadeira companhia. Se é para fazer promessas de ano novo, então no próximo ano eu prometo viver, prometo me livrar de tudo aquilo que não faz mais sentido, prometo me afastar de quem simplesmente não se importa por mais que você tente fazer tudo melhorar.
quinta-feira, 25 de setembro de 2014
Eu, você e o filho que a gente não teve
Velhos casos de amor convivendo com os novos
Pelo menos aqui, na tela,
Na memória também
Mas lá, na casca dura e inacessível
Ali estamos nós
Eu você e o filho que a gente não teve
Louças empilhadas na pia
Roupas espalhadas pelo chão
Aquele velho moletom que nunca vai pra caridade
A caneca de estimação
A minha sede de vingança já passou
Ficou a saudade e a solidão,
Ficamos aqui,
Eu, você e o filho que a gente não teve
E a casa que a gente não teve
E aquela viagem que a gente não fez
E aquele presente que eu não te entreguei
E o amor que sobrou em mim
terça-feira, 23 de setembro de 2014
O problema é a memória
O problema é a memória, sempre a memória, que desperta sem convite,
enquanto escovo os dentes, penteio os cabelos ou qualquer outra coisa. Não é só
porque houve, um dia, algo fora do lugar, é porque ainda há. Derrubamos a casa
ou sequer chegamos a construí-la? Eu, sem saber a resposta e com essa velha
mania de consertar coisas, tento juntar os tijolinhos e por as paredes no
lugar, mas qual parede? Eu me lembro apenas dos tijolos, muitos tijolos
espalhados, do resto conheço apenas a ausência. Não dá pra fazer bolo de
chocolate sem chocolate, você disse. É... tem razão, não existe chocolate, nem
tijolos, eu acho. Talvez não exista nada de nada em lugar algum, mas o problema
é a memória, sempre a memória, que teima em beber a água salgada e aumenta sua
sede de foda-se sei lá mais o que! Não, não! Cansei de vê-la jogar seus desejos
no meu colo, de ouvir o seu sussurro, de permitir que as suas frustrações venham
me acariciar os cabelos ou que transforme a sua acidez em meus enjoos matinais,
mas ela volta, sempre volta e traz você e todas as obviedades para as quais eu
gostaria de fechar os olhos. Excluindo essas ocasiões eu geralmente fecho os
olhos, viro o rosto ou digo: “Deixe quieto”... até chegar a hora da memória,
então sinto nojo de você. Sinto culpa, muita culpa de quem pede o perdão antes
de errar, pois sabe da inevitabilidade do erro. Perdão,
Senhor, eu sei o que faço. Sei e faço como se ouvisse um suave “eu avisei”.
Sinto a acidez do estômago constantemente e não
apenas pela manhã, ao despertar do sono. Há alguns dias tomei um porre, vomitei
até as tripas, eu acho, mas você não saiu de dentro de mim. Tomei um banho bem
demorado e esfreguei o corpo todo com uma esponja, mas a sua marca ainda estava
lá.
A autopiedade não
me conforta. Você também não me conforta. Aprendi a amar o frio na barriga que
sinto ao descer a montanha russa. Habituei-me à imprevisibilidade e à
distância. O seu silêncio guarda um
mundo inteiro, um mundo que eu gostaria que estivesse em outro universo, não no
nosso. Os olhos, contudo, transbordam o que a boca teima em esconder. Acho que
não consigo mais varrer a sujeira para baixo do tapete. A solução, porém, é a
memória, sempre a memória que insiste em lembrar de outras casas e outros
tijolos e de casas que nem são feitas de tijolos e do sabor do chocolate, de
outros chocolates, doces, amargos, brancos, recheados... Já fiz muito bolo de
chocolate, alguns mofaram, outros eu comi até os farelos. O que eu posso
garantir é que essas receitas uma hora acabam ou enjoam, pois esse tipo de
desejo é fome e uma vez saciado ele deixa de existir. Não é a mentira, como
dizem, mas sim o desejo que tem pernas curtas, é inescrupuloso e uma hora vai
te derrubar. É preciso transcender, algo para o qual eu nem sei ainda dar o
nome, mas existe, ou pelo menos já existiu se não me falha a memória. Tudo que
posso dizer agora é que não sei mais se gosto de chocolates e que cansei de
carregar tijolos.
segunda-feira, 22 de setembro de 2014
Não tenho tempo para ser inteligente
Desculpe,
não tenho tempo para ser inteligente. Agenda cheia, casa vazia. Minha melhor
amiga agora é mãe, não fui visitá-la, passaram-se semanas e, então, o mês. Não
fui visitá-la. Há algum tempo também não recebo amigos em casa. Alguns filmes
estão aguardando há mais de um ano para serem vistos e os livros na estante
para serem lidos, o parque aguarda a minha caminhada e a agenda do médico o
horário da minha consulta. Nada a contento, nada a seu tempo, eu, eternamente
atrasada, já estou habituada. O que dói mesmo é o fato de que a vida vai
fugindo. Não tenho tempo para ser uma pessoa legal. O cotidiano não é nem elétrico
e nem magnético. Não leio Clarice Lispector, não comento a obra de Frida Kahlo,
não estou antenada com o assunto top do momento. Tem dias que nem leio o
jornal. Comprei o bilhete da loteria e não conferi os números para saber se
ganhei. Postei uma foto divertida no facebook, duas pessoas curtiram, essa
piada é velha, eu acho, mas ainda não tinha visto.
Enterrei
a vaidade em algum lugar, não comprei roupas descoladas, não vou à manicure faz
tempo, meu cabelo cresceu, me esqueci de cortar, está cheio de pontas duplas e
ressecadas. As bijuterias estão escurecendo na gaveta. Uma pitada de sono e
outra de gordura para chegar à seguinte conclusão: também não tenho tempo para
ser bonita. Tenho fugido de fotografias. Como chocolate, pizza, pastel e não é
porque não tenho tempo, é porque são coisas gostosas, feitas, talvez, pra
suprir momentaneamente a falta de diversão. Tenho gastrite. Dói. Não faço
dieta. Fui ao bar outro dia, não tomei cerveja, passou meia hora, voltei pra
casa e dormi. Hojeacordeitomeibanhosaícorrendoeoportãoeletrônicotravouacheiqueiriaatrasarteveuminfeliznaminhafrentedirigindoa20kmporhoraosinalestavaamareloeentãofechouacabeipassandonosinalvermelhoeoguardaestavapertocoloqueiocintodesegurançaqueeutinhaesquecidochegueiatempoufanahoradoalmoçofuiatéapadariatomeiumpingadoecomiumpãonachapaorestododiapassourápidoànoiteeuvolteiaestudareentãochegueiemcasaeodiaacabou.
Amanhãcomeçatudodenovo. Mas, quem afinal de
contas quer saber disso? Quem pensa que a vida anda escassa? Nem eu mesma e nem
tantas outras pessoas que vivem o texto sem espaço e que não tem tempo para
serem bonitas, interessantes e muito menos inteligentes. Não, nós não pensamos,
apenas sufocamos.
quinta-feira, 11 de setembro de 2014
Limonada
Eu sou vermelho
Você é verde
Eu sou Saturno
Você é Urano
Eu sou raiz
Você é nuvem
Eu sou linha
Você é espiral
Eu sou relógio
Você é eternidade
Eu sou enciclopédia
Você é mitologia
Eu sou Norte
Você é oceano
Eu sou lembrança
Você é sonho
Eu sou casa
Você é janela
Eu sou geladeira
Você é liquidificador
Eu sou método
Você é invenção
Eu sou gramática
Você é literatura
Eu sou estrada
Você é viagem
Eu sou eletricidade
Você é magnetismo
Eu sou acorde
Você é silêncio
E nós dois: música!
quinta-feira, 3 de julho de 2014
Eu, você e o labirinto
Eu entrei no labirinto.
Não queria, mas eu entrei no
labirinto.
Cega, eu entrei no labirinto,
Sem o novelo de Ariadne,
A sós com o Minotauro
E uma coleção de demônios,
Eu entrei no labirinto.
Há uma vaga lembrança
Que aos poucos se evanesce
Sobre como era a vida
Antes do labirinto.
Quiçá, lá fora encontremos, ambos, a
paz.
Como o criador que não pode viver
longe da criatura
Você não pode viver longe do
labirinto que forjou.
Perdi a conta dos dias e das voltas.
Com um pedaço de giz,
Marquei os caminhos por onde
passamos,
Mas você apagou todas as marcas.
Não há conforto algum em ficar,
Lá fora, porém, quem sabe o que
haverá?
Eu ainda fujo do Minotauro,
Você o domesticou,
Prefere a companhia dos velhos demônios
ao desconhecido.
Com a voz trêmula, então você falou:
- Eu amo você!
Com a voz trêmula de quem duvida,
Você se perdeu,
Nós nos perdemos.
Eu, cansada dessas nossas voltas,
Do mesmo e velho caminho,
Distante da ira e do carinho,
Parei e me deitei no chão,
O sono sucede à adrenalina.
Perguntas? Respostas? Reflexões?
Oxigênio, apenas isso, oxigênio!
Uma bela inalação de ar fresco.
Saia, dê mais uma volta,
Converse com os demônios não
domesticados
Esses me conhecem muito bem,
Ainda que os veja como estranhos.
Admire toda a extensão do labirinto
Enquanto eu aprecio os espelhos,
Deixe-me só,
Só me deixe,
Só isso.
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