quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Amor é tipo leite

Olha, se for recomendar uma leitura pra vocês, recomendo "Os funerais do coelho branco" do Nenê Altro do Dance of Days, ainda que muita gente possa criticar ou não curtir o som da banda, digo para que leiam o livro, pois posso não entender de música mas acho que de literatura eu entendo um pouquinho... por isso, deixo aqui uma parte que me chamou a atenção...

Sempre me levavam lá pra tirar quebrante.
Ficava nessa mesma rua aqui da quitanda.
Acho.
Tipo mais lá pra baixo.
Uma vez eu tomei um fora na escola e chorei em casa.
Minha mãe achou que era quebrante.
A velha jogou o fósforo.
Falou que era amor.
No dia seguinte foi a mesma merda.
Botei a culpa na velha.
Depois com o tempo descobri que o problema era o café.
Porque café não tem nada a ver com amor.
Café desce rasgando e te deixa ligado.
Amor não.
Amor é tipo leite.
Tem prazo de validade curto e azeda muito rápido.
E longa vida tem conservante.
Uma mentira embalada.
Só parece seguro porque está em uma caixinha.
Depois que abre é igual a qualquer outro.
Não sei como chorei por aquela ridícula da escola.
Ela era horrível.
Amor é tipo isso, derivado de leite com embalagem bonita na geladeira do mercado.
Você quer muito, as vezes fica doente de vontade, mas depois que bebe vê que nem foi tudo aquilo.
E sem as embalagens, no fundo, danone, queijo, manteiga... é tudo a mesma merda.
Fica lá em você boiando até sumir.
Teu corpo absorve o bom.
E o ruim vai embora.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Parabéns Sorocaba!

Essa semana minha cidade fez aniversário, foi dia 15 de agosto, 357 anos. E eu não pude deixar de lembrar dos maldosos, engraçados e alguns muito verdadeiros comentários do verbete "Sorocaba" na desciclopédia! Por isso decidi copiar e colar alguns trechos sobre a história aqui.

Sorocaba surgiu de uma expedição frustrada formada por meia duzia de portugueses rudes e sem instrução que perambulavam pelos arredores do Rio Tietê. Os registros apontam que o ex-presidiário português Baltazar Fernandes, após cumprir sua pena por homicídio foi deportado para o Brasil. Aqui desembarcando fez logo amizade com parte da escória local, e resolveu montar um grupo de mercenários para desbravar o interior do país em busca de pedras preciosas, minério e índios para o trabalho escravo. Depois do recrutamento Baltazar e sua gangue colocaram os pés na trilha. Dias depois estavam as margens do rio Tietê, lá encontraram um grupo de religiosos subordinados a Padre Anchieta que se preparavam para descer o rio em canoas de madeira. Ele (Baltazar Fernandes) reparou que as canoas estavam em ótimas condições e carregadas de suprimentos, prontas para seguir viagem. Não pensou duas vezes, sacou sua espada e começou a chacina. Ele e seus comparsas assassinaram brutalmente e sem piedade 16 jesuítas. Após a matança a gangue de Baltazar embarcou nas canoas e começou a descer o rio Tietê. Dois dias depois aportaram em Araritaguaba, um pequeno cais a margem do Tietê, onde atualmente se encontra a cidade de Porto Feliz. Desembarcaram no pequeno porto e resolveram seguir a pé. Na jornada percorreram 35 quilometros de mata fechada. Ficaram exaustos e começaram a refletir sobre a grande utilidade que teriam os animais de tração e montaria naquela ocasião. Neste tempo, estavam acampados onde hoje se localiza o bairro Itavuvu, resolveram fundar ali um povoado, que recebeu o nome de Colonia do Itavuvu. Construíram uma pequena capela e um pelourinho para castigar os escravos que alí fizeram. Após alguns dias continuaram a caminhada, que acabou quando encontraram um outro grande rio. O Rio Sorocaba. Estavam no local onde hoje se encontra a ponte da rua XV de Novembro. Alí promoveram uma missa e a benção da terra. Surgia então a cidade de Sorocaba, que teve seu crescimento moldado geograficamente pelo traçado do rio. Em suas margens também surgiram as primeiras atividades economicas do municipio. A mais famosa delas foi a Feira de Muares. Basicamente os "cavalos" membros da elite da sociedade sorocabana reuniam-se na beira do rio para vender mulas trazidas do sul do país. Daquela época para nossos dias pode-se fazer uma analogia com profunda coerencia e base filosófica. Fica fácil entender o comportamento e costumes do sorocabano. Um povo que nasceu pelas mãos de mercenários criminosos analfabetos, rudes e interesseiros. Gente da pior estirpe, que sem qualquer escrupulo matava índios, tomava suas terras, explorava o que podia e o que não podia destruia. A economia surgiu com "cavalos" vendendo mulas.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

O sonhador...

Antônio Maria, um grande cronista brasileiro da década de 50 que foi amigo de, dentre outras figuras literárias que admiro, Rubem Braga; ele escreveu durante alguns meses num caderno, pensamentos soltos, que foram publicados como "O diário de Antônio Maria". E eu gosto muito dessa passagem que ele escreveu...

Gosto de sonhar com algumas felicidades. E ontem deixei-me sonhar à vontade, enquanto ia de lotação para Copacabana. Meus sonhos são ricos em pormenores. Dou-lhes comédia, drama, romance, música, palavras, estados, tudo. Faço uma realidade muito rica em minha mente. Construo pessoas felizes por minha causa. E me ponho feliz por causa delas.
Ontem mesmo, mais tarde, eu me perguntei se não seria um erro consentir nesses sonhos. Eles são belos, tiram-me do momento vigente, que quase sempre é banal e em que eu estou geralmente só. Mas um sonhador se contentará, depois, com as suas realidades? Digamos, as suas mais felizes realidades? Suas mãos, sua palavra, seu rosto, seu sexo, seus cabelos... Saberão fazer um fato tão belo quanto aquele que foi feito pelo espírito? Acho que em meu caso especial, se me deixar sonhar livremente, serei um constante insatisfeito em minhas futuras felicidades. Entanto, faz-me bem sonhar. 

Sonhar fez bem a ele, e a mim também faz. 

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

O Sorriso

Há um sorriso d'Amor,
E um sorriso d'Enganar,
E há um entre os Sorrisos
Em que os dois vão se juntar.

Há uma Cara do Ódio,
E uma Cara de desdém,
E há uma entre essas Caras
Que a memória retém

No Fundo do Coração
E no mais fundo da Pele;
E sorriso houve jamais,
Sorriso algum como aquele,

Que do Berço até a Cova
Só sorri uma vez assim;
Mas quando ele assim Sorri
Toda a Tristeza tem fim.

(William Blake)