sábado, 28 de julho de 2012

Instituto Cahon - Propaganda


Foto: Adriano Sobral

"A vida é valor absoluto. Não existe vida menor ou maior, inferior ou superior." (Olympia Salete)

segunda-feira, 16 de julho de 2012

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Paraíso Perdido



Em uma de suas obras, William Blake retratou a tentação e queda de Eva. O artista, conhecido por sua fantástica imaginação e pelas peculiares concepções religiosas, interessou-se bastante pelas dissidências protestantes que se multiplicaram a partir do século XVIII. Não vou apresentar aqui o pensamento de cada uma delas, mesmo porque o meu objetivo aqui não é discutir o pensamento religioso em si mesmo, mas sim algumas das representações da queda de Adão e Eva do paraíso na arte.
Observando a imagem de William Blake e a sua simbologia, percebemos que ela não está distante das representações da maior parte das religiões Cristãs quanto ao evento. Nelas, toda a origem do mal neste mundo é atribuída à mulher e, posso ir mais longe ainda, dizendo que é atribuída ao corpo da mulher, o corpo que se alimenta do fruto proibido e se rende à sensualidade. Eis a origem, não do mal, mas sim da misoginia. William Blake, artista conhecido também por um pensamento libertário, inclusive no que se refere ao corpo e à sensualidade, vide sua obra ícone O Matrimônio do Céu e do Inferno, tomou elementos dessa interpretação clássica do cristianismo quanto à queda do Paraíso e à mulher. Na imagem, observamos que Adão, um símbolo da fé, está de costas para o observador, enquanto Eva, com a serpente sensualmente envolta em seu corpo, prova do fruto proibido diretamente da boca diabólica do animal. É possível dizer que Blake quis passar a mensagem de que o pecado só poderia triunfar enquanto a fé estivesse adormecida. Em outra das imagens de Blake, Adão é mostrado “literalmente” dormindo. Continuando com algumas das interpretações da cristãs, podemos dizer que Eva, aquela curiosa que provou do fruto proibido, dissimulada e malvada que era (ou tornou-se), enganou o pobre e fiel Adão, que provou do tal fruto proibido.

Ok, esta é a interpretação clássica, mas não é a definitiva, pois os artistas, estes homens abençoados que são, negam peremptoriamente o que é definitivo. John Milton, no seu épico Paraíso Perdido traz uma visão diferente, digo, muito mais humanizada da coisa toda. A obra não trata apenas da queda da humanidade, mas também das disputas entre o céu e o inferno, ou indo além, da luta entre um anjo rebelde e a tirania de um senhor absoluto. Não é de se estranhar que Milton, o poeta puritano, tenha vivido à época da Revolução Gloriosa na Inglaterra e tenha participado ativamente dela, ele foi secretário do conselho da Commonwealth.
E os homens, como é que ficam no meio dessa história toda? Voltemos a pensar sobre estes elementos: Adão, Eva, fruto proibido, serpente, pecado, ira divina. Eva fora atraída pela promessa da serpente de que conseguiria poderes sobrenaturais e seria adorada pelos anjos caso provasse do fruto, mas logo após prova-lo sente um medo imenso do que poderia acontecer a ela. Morreria? Deixaria Adão só no Paraíso? Ele viveria então, feliz, com outra mulher? Tomada pela dúvida e pela sensação de culpa, Eva conta ao seu companheiro o que havia acontecido e o culpa por deixa-la sozinha vagando pelo Paraíso, não fosse isso nada daquilo teria acontecido. Ao ouvir a história toda, Adão sabe o quão grave foi a atitude de sua mulher, sabe também que a ira divina seria inevitável, e toma uma atitude cavalheiresca. Ele não foi curioso, não foi enganado, não estava adormecido quando a coisa toda aconteceu, ele sentiu compaixão. Despiu-se de todo orgulho e qualquer sentimento egoísta que pudesse ter, pois sabia que ele mesmo poderia ter pecado, então consciente, ele também provou o fruto proibido. Adão renunciou ao Paraíso e escolheu sofrer todas as dores do mundo ao lado de sua companheira, ao invés da tristeza de uma vida solitária no Paraíso. A partir daí a inocência foi perdida, e ambos descobriram a dor, a doença, a morte, o sofrimento, a angústia. Contudo, lembrando a história da caixa de Pandora, restava algo semelhante à esperança. Com a queda, eles descobriram não apenas todas as mazelas da humanidade, mas também a solidariedade, a caridade, a compaixão e o amor. Foi a descoberta do amor que tornou Adão, enfim, Homem.