domingo, 18 de setembro de 2011

A girafa e a minha opinião sobre o assunto



Aqui em Sorocaba existe um assunto que tem gerado uma certa polêmica. Algumas pessoas estão reivindicando a compra de uma girafa para o zoológico municipal Quinzinho de Barros. E qual é o argumento delas? "Ah, mas eu nunca vi uma girafa", ou então, "acho que a girafa é um bicho tão legal, quero uma agora". Por outro lado, existem aquelas que são contra, por argumentos que eu considero muito mais convincentes e relevantes que simplesmente dizer que a girafa é um bicho legal. Primeiramente é preciso lembrar que o lugar da girafa é na África e não no zoológico e que por mais "bem tratada" que ela seja, nunca será como o seu habitat natural. Aliás penso que a proteção e o respeito pelos animais começa no repúdio aos cativeiros. Outro ponto que devemos nos lembrar é que a girafa será comprada e eu me pergunto então, ela é uma mercadoria ou um ser vivo? Fico com a segunda opção, pois não acredito nas relações mercadológocas do mundo de hoje, nem tudo pode ser comprado. E lembrando disso é possível dizer também que a compra de animais para zoológicos, mesmo daqueles que são nascidos em cativeiro, estimula de alguma forma o comércio ilegal de animais. E finalmente lembro de algo que pode abalar a idéia daqueles que são favoráveis à vinda da girafa, e aliás, eles são muitos. Existem dois abaixo-assinados rodando por aí, um que é a favor e outro contra a compra da girafa e o abaixo assinado a favor da girafa no zoológico conta hoje com mais assinaturas do que aquele que é contra, segundo fontes não tão confiáveis, mas ok. O que eu quero aqui é lembrar a essas pessoas que a girafa custará em torno de 145 mil reais e serão necessários mais uns 50 mil para a sua adaptação aqui. Mais de 200 mil reais pra manter um animal preso! Se vocês nunca viram uma girafa deveriam assistir a um dos inúmeros documentários sobre mundo animal que existem por aí, pois se todo mundo quisesse trazer para um cativeiro um animal que nunca viu teríamos que construir a arca de Noé novamente, não é mesmo? E isso é impossível... im-pos-sí-vel!!! Então sejamos mais inteligentes, por favor! Você já pensou quantos benefícios poderiam ser feitos para os bairros da cidade que se encontram em situações precárias com esse dinheiro? Eu penso que se o poder público pode gastar cerca de 200 mil reais com a compra de uma girafa, poderia também instalar redes de esgoto onde não tem, asfaltar ruas, reformar escolas e postos de saúde. É por isso que eu aviso aqui que produzirei um documentário sobre este tema, no qual eu procurarei entrevistar os moradores de alguns bairros daqui de Sorocaba, falando também sobre essa questão dos custos, e enfim perguntar: "você é a favor ou contra a compra da girafa?" A trajetória e o resultado do projeto poderão ser acompanhados aqui.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Nós também estamos lá fora


No dia 27 de agosto foi realizado aqui em Sorocaba o Fórum Regional Sobre Direitos dos Animais, no qual se discutiu o tema da Antivivissecção (pensamento que se opõe ao uso de animais vivos em testes para indústria e em experiências para o ensino e pesquisa nas universidades). Uma das palestrantes foi a Dra. Odete Miranda, que é médica e professora da Universidade do ABC, na qual não se utilizam mais animais vivos nas aulas do curso. A Dra. mostrou métodos substitutivos para o uso de animais vivos com o objetivo de ensinar. Uma das questões colocadas na palestra da Dra. Odete em defesa do uso apenas de animais mortos (conservados por certa solução química) durante as aulas foi a de que trabalhar com animais vivos no curso de medicina é parte do processo que torna o médico um homem indiferente à dor. Afinal de contas, quando ele realiza qualquer procedimento em um animal, seja um cachorro, um rato, um coelho ou qualquer outro, este animal representa, naquele momento, o seu paciente. É fato que o animal, assim como seu paciente, sente dor e sangra, pois é um ser vivo também. Através destas lições o médico aprende então, não apenas como proceder em relação ao corpo de seu paciente no tratamento de uma determinada doença, aprende também a esquecer um determinado sentimento humano: a empatia. É nesse momento que o “homem” deixa de existir e passa a ser o “médico”, passa a ser distante. Esta distância que é capaz de torná-lo insensível em relação à dor do animal durante o seu aprendizado, também é capaz de torná-lo insensível em relação ao seu paciente. A distância da dor pode levar o médico a, por exemplo, diferenciar os seus pacientes de acordo com a condição econômica. Pode levá-lo a não se importar com o infindável número de pessoas que aguardam horas (sentindo dor) pelo atendimento médico nas filas dos hospitais públicos. Você pode não gostar de animais, mas não quer que o seu médico o trate como um animal, principalmente como um de laboratório, não é mesmo? É nesse ponto que começamos a perceber a ligação entre coisas que aparentemente não tinham nada a ver.



Creio que a astronomia, ou melhor, a história da astronomia tem muito a nos ensinar nesse sentido. O astrônomo Johannes Kepler (1571-1630) utilizando dados disponibilizados por Tycho Brae (1546-1601) mostrou de forma muito precisa para a época em que viveu que a órbita dos planetas que compõem o sistema solar não era circular, como supunha o pensamento de Aristóteles, mas sim, elíptica. A descoberta de Kepler foi fundamental para que Isaac Newton (1643-1727) formulasse o seu pensamento sobre a gravidade. Mas, por que estes homens observavam continuamente e cuidadosamente o céu? Certamente, Kepler não observou as estrelas sabendo o que iria encontrar, e Newton também não. As descobertas vieram depois. A motivação de olhar para o céu veio antes. Penso que essa motivação, ou seja, a ligação entre o céu e a Terra, possa ser esclarecida se tivermos em mente que no tempo em que os astrônomos citados viveram a distinção entre a astronomia e a astrologia não era ainda tão rígida quanto nos dias atuais. Tanto Kepler quanto Newton não foram apenas astrônomos, como também foram astrólogos. Os astrólogos olham para o céu porque querem encontrar nele um pedacinho de si mesmos aqui na terra. Os astrólogos se lembram continuamente de algo que a maioria de nós esquece com facilidade, lembram-se de que nós também estamos lá fora. Kepler e Newton olhavam as estrelas porque buscavam algo aqui na Terra.

 
Por um motivo semelhante ao dos astrônomos, e ao dos astrólogos, é que agem outros profissionais. Os antropólogos, por exemplo, estudam outros seres humanos através da sensação de estranhamento. Talvez, ao observar os costumes de outro povo, tido pelos ocidentais como “exótico”, e aproximá-lo de si, da sua forma de agir e de pensar, o antropólogo passe não só a compreender o outro, mas a estranhar a si mesmo. Então, o cientista conhece, por intermédio do diferente, uma parcela de si que até então permanecera obscura. É aí que o antropólogo descobre que ele também está lá fora.

 

Os historiadores também olham outros homens com a sensação de estranhamento, olham para aqueles que vieram antes de si, muitas vezes conversam com os mortos e procuram ouvir os seus segredos. A natureza de seu ofício pode levar algumas pessoas a perguntar: “Ah, historiador, por um acaso a sua vida cotidiana já não lhe ocupa muito tempo? Por que é que você resolve olhar para trás, para outro tempo que não seja o seu? Porque conversa com os mortos e o que eles têm a lhe ensinar?”. E os historiadores podem responder que estão presos ao seu próprio tempo, às inquietações que nenhum contemporâneo é capaz de responder de forma satisfatória e, por isso, buscam através dos que vieram antes deles a resposta para seus próprios problemas. Nas diferentes atitudes, pensamentos e relações humanas em diversos lugares e temporalidades os historiadores encontram fragmentos de si mesmos. Eles sabem que desejamos ver algo além de nós mesmos, mas tudo que existe ao nosso redor torna-se, afinal, um espelho.
Os médicos deveriam aprender um pouco com estes profissionais, com os astrônomos, astrólogos, antropólogos e historiadores. Aliás, todos nós deveríamos aprender algo com estes ofícios: Nós também estamos lá fora.  

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Documentário


Deixo aqui o documentário produzido sobre a manifestação ocorrida no último dia 10 de setembro, em Itapecerica da Serra, contra o abate das chinchilas.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Relembrando o ano 2000



Há alguns dias atrás estava rolando uma brincadeira no Facebook e era o seguinte: cada um recebia de um amigo um determinado ano e deveria contar algumas coisas que aconteceram nele como a música que costumava ouvir, o trabalho que tinha, o curso que frequentava e o namorado na época. Eu ganhei de um amigo o ano 2000 e deveria, portanto falar tudo o que todo mundo falava sobre o ano que recebia. Eu realmente tava afim de participar da brincadeira, mas pra dizer a verdade, em 2000 não tinha muita coisa interessante acontecendo na minha vida, sabe? Lembro que na virada do ano as pessoas falavam sobre o bug do milênio, da mesma forma que hoje falam da profecia maia de 2012. Eu tinha 14 anos, estava na oitava série... só bebia suco muppy no intervalo da escola, só ia pro cinema com os amigos, ouvia muito as spice girls e meus meios de transporte eram a carona com a mãe, a bicicleta e a mercedes da urbes aqui em Sorocaba... Eu usava um all star azul, que eu detonei de tanto usar, não sabia fazer maquiagem e nem andar de salto alto. Eu queria aprender a tocar violão. Meus amigos daquela época, para citar alguns eram Rafa Lungwitz , Henrique Della Rosa , João Girotto , Raquel Ciolete de Jesus , Maria Eduarda Mazotini , Marcia Harumi... Eles continuam sendo muito queridos hoje e eu gosto de vê-los sempre que possível, embora a rotina atualmente não permita mais que passemos a tarde toda juntos num dia de semana e dificilmente conseguimos nos reunir todos. É, não eram bons tempos, mas que saudade eu tenho!


segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Em defesa da vida



No último sábado, dia 10 estive em Itapecerica da Serra, participei do “Comboio pela vida”, uma ação de repúdio ao abate das chinchilas. Saímos daqui de Sorocaba eu, Flavia Toledo e Caio como representantes da comissão de justiça e direito dos animais e, apesar dos contratempos da viagem, que vou contar aqui, acabou dando tudo certo. E aqui estou eu, para escrever as minhas impressões a respeito da manifestação. Antes de tudo, devo dizer que esperava mais gente lá. Afinal de contas foi uma manifestação que partiu de São Paulo e, sendo esta a maior cidade do país, deveria contar também com o maior número de ativistas. Ainda sim, valeu a pena ver o comprometimento e o desejo de mudança das pessoas que estavam lá.



No dia anterior à viagem houve uma reunião da comissão, na qual foi discutida a organização do WEEAC, outro evento de repúdio à crueldade contra os animais que ocorrerá em outubro, em várias cidades do mundo, inclusive aqui em Sorocaba. Lembramos então, durante a reunião, da manifestação que ocorreria em Itapecerica e, lembramos também, que seria no dia seguinte, e não estávamos muito certos sobre ir até lá ou não, e é nesse ponto que eu me pergunto, por que quando pensamos em fazer alguma coisa que realmente vale a pena ser feita, surge na nossa cabeça todo tipo de obstáculo para não realizá-la? No meu caso, pensei nos custos da viagem (porque, sim, eu ando bem sem grana mesmo) e no fato de não conhecer muito bem o caminho até lá. Outros trabalhariam no sábado de manhã e, de fato não poderiam ir. No final das contas, decidimos ir nós três, no meu carro, comigo dirigindo, o que pensei ter sido um grande ato de coragem por parte do Caio e da Flavia, até descobrir que os dois estavam de certa forma, mais perdidos que eu. E por que eu digo isso? Bom, o comboio partiria de São Paulo até o matadouro das chinchilas em Itapecerica, mas nós decidimos não passar por São Paulo e ir direto pra lá. Acontece que nenhum de nós sabia onde ficava o matadouro e também não tinha o endereço de ninguém que estivesse em São Paulo participando do evento pra dizer onde deveríamos ir ou onde poderíamos encontrar o restante das pessoas. Porém, deixamos para descobrir isso quando já estávamos lá! Não dava pra ficar perguntando pras pessoas na rua onde ficava o tal lugar, apesar de que, admito, nós tentamos fazer isso! Quando percebemos que seria difícil conseguir a informação com as pessoas na rua, fizemos várias ligações, procurando o telefone ou celular de alguém que pudesse nos ajudar. Conseguimos falar com o Júlio Mancha que nos informou que o pessoal ainda não tinha saído de São Paulo e que nos encontrariam em Itapecerica. 



Que bom! Imagine se tivéssemos chegado lá e depois de ter descoberto que estávamos perdidos, não conseguir encontrar ninguém e ter que voltar pra casa. Mas essa história de ficarmos perdidos teve um propósito, pois descobrimos que a maioria das pessoas, na própria cidade, não sabia que havia ali um criador de chinchilas e que ele as criava com o único propósito de vender suas peles, porque toda carne desses animais é descartada. Aviso aqui a todos que sou vegetariana, mas apesar de não comer carne e acreditar que o homem não precisa mesmo se alimentar de carne para viver, poderia considerar como “não fútil”, o argumento de que ali se produzia alimento. Imagino também que a maioria das pessoas naquela cidade não sabe com que crueldade esses animais são mortos, sem receber qualquer tipo de anestésico. Poderia afirmar também que a maioria das pessoas realmente não sabe do que acontece ali, porque não compra casacos de pele, usa sim algum tipo de material sintético, pois casaco de pele de verdade, é caríssimo! Poucas madames podem comprar este artigo de luxo. E eu penso que, se a maioria das pessoas vive muito bem sem usar casaco de pele, é porque eles não são necessários e quando tomamos consciência da forma como são feitos fica impossível não vê-los banhados em sangue. E tem gente que se diz civilizada e justifica seu comportamento com base num suposto ancestral das cavernas, que matou algum animal para vestir ou para comer. Fica então aqui o meu recado para os homens civilizados: Sejam civilizados e parem de agir como Neandertais. Não justifique o ato de matar como uma necessidade, ainda mais quando há uma escolha.      
Dentro do que o senso comum concebe como mundo selvagem, todos os animais matam para sobreviver. Todos, exceto um: o homem. Esse sim é o único capaz de matar por diversão, ganância e vaidade.