Antônio Maria, um grande cronista brasileiro da década de 50 que foi amigo de, dentre outras figuras literárias que admiro, Rubem Braga; ele escreveu durante alguns meses num caderno, pensamentos soltos, que foram publicados como "O diário de Antônio Maria". E eu gosto muito dessa passagem que ele escreveu...
Gosto de sonhar com algumas felicidades. E ontem deixei-me sonhar à vontade, enquanto ia de lotação para Copacabana. Meus sonhos são ricos em pormenores. Dou-lhes comédia, drama, romance, música, palavras, estados, tudo. Faço uma realidade muito rica em minha mente. Construo pessoas felizes por minha causa. E me ponho feliz por causa delas.
Ontem mesmo, mais tarde, eu me perguntei se não seria um erro consentir nesses sonhos. Eles são belos, tiram-me do momento vigente, que quase sempre é banal e em que eu estou geralmente só. Mas um sonhador se contentará, depois, com as suas realidades? Digamos, as suas mais felizes realidades? Suas mãos, sua palavra, seu rosto, seu sexo, seus cabelos... Saberão fazer um fato tão belo quanto aquele que foi feito pelo espírito? Acho que em meu caso especial, se me deixar sonhar livremente, serei um constante insatisfeito em minhas futuras felicidades. Entanto, faz-me bem sonhar.
Sonhar fez bem a ele, e a mim também faz.
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