quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Tadinho do Napoleão

        Para Josephine, em Milão
        De Verona, em 13 de novembro de 1796

     Já não te amo mais; pelo contrário, detesto-te. És horrenda, muito desajeitada, muito idiota, uma verdadeira Cinderela. Não me escreves nunca, não amas vosso marido; sabeis do prazer que vossas cartas lhe proporcionam e não lhe envias sequer meia dúzia de linhas de rabiscos ocasionais.
     Então, o que fazes o dia inteiro, senhora? Que assunto de tanta importância ocupa teu tempo, impedindo-te de escrever a teu excelente amante? Que afeição sufoca e põe de lado o amor, o amor eterno e constante que lhe prometeste? Quem pode ser esse novo amante maravilhoso que absorve todos os seus instantes, tiraniza por inteiro teus dias e te impede de dar atenção a teu marido? Josefina, tem cuidado, uma noite dessas as portas se abrirão e eu estarei lá.
     Em verdade, minha boa amiga, estou ansioso por não ter recebido notícias tuas; escreve-me depressa quatro páginas e diz aquelas coisas amáveis que enchem meu coração de sentimento e prazer.
     Espero logo poder apertar-te em meus braços e fazer chover sobre ti um milhão de beijos ardentes como as chuvas abaixo do Equador.

BONAPARTE

     Para Josefina, 1796

     Não vivi um único dia em que não te amasse; não passei uma única noite sem te abraçar; não bebi uma única xícara de chá sem amaldiçoar o orgulho e a ambição que me forçam a permanecer longe do espírito que inspira minha vida. Em meio a meus deveres, quer eu esteja à frente do exército ou inspecionando os campos, minha amada Josefina domina meu coração, ocupa minha mente, preenche meus pensamentos. Se estou me afastando de ti à velocidade da torrente do Ródano, é somente para poder tornar a ver-te mais cedo. Se me levanto para trabalhar no meio da noite é porque isso pode acelerar alguns dias a chegada do meu doce amor. No entanto, em tua carta dos dias 23 e 26 de Ventoso, me tratas por vous. Aplica este tratamento a ti mesma! Ah, infeliz, como podes ter escrito uma carta tão fria! E ainda há esses quatro dias entre o 23 e o 26; o que fazias para deixar de escrever a teu marido?... Ah, meu amor, aquele vous, aqueles quatro dias me fazem ter saudade da minha anterior indiferença. Que se cuide o responsável! Possa ele, como punição e compensação, experimentar o que minhas convicções e as provas (que pesam em favor do teu amigo) me fariam vivenciar! O inferno não tem tormentos suficientemente grandes! Nem as fúrias têm serpentes suficientes! Vous! Vous! Ah, como estarão as coisas dentro de duas semanas? ... Meu espírito está pesado, meu coração está acorrentado e sou assombrado por minhas fantasias... Tu me amas menos, mas superarás a perda. Um dia não me amarás mais; pelo menos admite; então eu saberei o que fiz pra merecer esse infortúnio... Adeus, minha esposa: tormento, alegria, esperança e espírito inspirador da minha vida; a quem amo e temo, aquela que me enche de sentimentos ternos que me aproximam da natureza e de impulsos violentos e agitados como uma tempestade. Não te peço amor eterno nem fidelidade, mas simplesmente... verdade, honestidade sem limites. O dia em que disseres "te amo menos" marcará o fim do meu amor e o último dia da minha vida. Se meu coração fosse tão ignóbil que pudesse amar sem ser amado eu o faria em pedaços. Josefina! Josefina! Recorda o que algumas vezes te disse: a natureza me dotou de um caráter viril e decidido. Ela construiu o seu com renda e tecidos diáfanos. Deixaste de me amar? Perdoa-me, amor da minha vida, minha alma está sendo esquartejada por forças conflitantes. 
     Meu coração obcecado por ti, está repleto de medos que me deixam prostrado de infelicidade... estou perturbado por não poder te chamar pelo nome pessoalmente. Esperarei que tu o escrevas. 
     Adeus! Ah! Se me amas menos, nunca me terás amado. Nesse caso, serei bem digno de piedade.

BONAPARTE

P.S.: Este ano, a guerra mudou a ponto de ficar irreconhecível. Fiz com que distribuíssem carne, pão e forragem; minha cavalaria armada logo estará em marcha. Meus soldados mostram uma indescritível confiança em mim; só tu me és fonte de tristeza; só tu és a alegria e o tormento da minha vida. Mando um beijo para teus filhos, que deixaste de mencionar. Por Deus! Se o fizesses, suas cartas seriam meia vez mais longas. Então, os visitantes que se apresentassem às dez horas da manhã não teriam o prazer de te ver. Mulher!!!

 Parte do livro: 

"Cartas de amor de homens notáveis"
Editado por Ursula Doyle.



Nenhum comentário:

Postar um comentário