Eu entrei no labirinto.
Não queria, mas eu entrei no
labirinto.
Cega, eu entrei no labirinto,
Sem o novelo de Ariadne,
A sós com o Minotauro
E uma coleção de demônios,
Eu entrei no labirinto.
Há uma vaga lembrança
Que aos poucos se evanesce
Sobre como era a vida
Antes do labirinto.
Quiçá, lá fora encontremos, ambos, a
paz.
Como o criador que não pode viver
longe da criatura
Você não pode viver longe do
labirinto que forjou.
Perdi a conta dos dias e das voltas.
Com um pedaço de giz,
Marquei os caminhos por onde
passamos,
Mas você apagou todas as marcas.
Não há conforto algum em ficar,
Lá fora, porém, quem sabe o que
haverá?
Eu ainda fujo do Minotauro,
Você o domesticou,
Prefere a companhia dos velhos demônios
ao desconhecido.
Com a voz trêmula, então você falou:
- Eu amo você!
Com a voz trêmula de quem duvida,
Você se perdeu,
Nós nos perdemos.
Eu, cansada dessas nossas voltas,
Do mesmo e velho caminho,
Distante da ira e do carinho,
Parei e me deitei no chão,
O sono sucede à adrenalina.
Perguntas? Respostas? Reflexões?
Oxigênio, apenas isso, oxigênio!
Uma bela inalação de ar fresco.
Saia, dê mais uma volta,
Converse com os demônios não
domesticados
Esses me conhecem muito bem,
Ainda que os veja como estranhos.
Admire toda a extensão do labirinto
Enquanto eu aprecio os espelhos,
Deixe-me só,
Só me deixe,
Só isso.